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Provando que você pode ser um investidor conservador e agressivo ao mesmo tempo

Imagine a cena: Você está numa mesa de pôquer. Tem um par de ases na mão, excelente chance de dobrar sua ficha. Mas é o seu último all-in da noite. Se perder, vai embora pra casa. O que você faz? Talvez pense duas vezes.

Agora imagine que você tem uma pilha enorme de fichas, e o valor da aposta é só 5% do total. Você entra sem pensar. A decisão é a mesma, mas a consequência muda. E por isso você muda com ela.

Esse é o ponto central deste artigo: o mesmo investidor pode ser conservador e agressivo, dependendo do contexto. E essa não é uma contradição, é uma resposta natural ao risco de ruína.

Daniel Kahneman e Amos Tversky, em “Rápido e Devagar”, provaram que as pessoas são muito mais sensíveis à perda do que ao ganho. O fenômeno é chamado de aversão à perda. Segundo seus estudos, a dor de perder R$1.000 é cerca de 2x mais intensa do que o prazer de ganhar R$1.000.

Ou seja: mesmo quando o valor esperado é o mesmo, preferimos o “certo e garantido”.

“Você prefere 50% de chance de ganhar 12% ou 100% de chance de ganhar 6% ao ano?” A maioria responde: “Prefiro o 6% garantido.”

Essa resposta, longe de ser irracional, mostra que os investidores não são neutros ao risco. Eles preferem a previsibilidade quando a alternativa envolve a chance de uma perda significativa, mesmo que matemática e racionalmente as opções tenham o mesmo valor esperado.

Imagine que você é técnico na final da Libertadores. O jogo está empatado. Você tem um atacante no banco: jovem, veloz, mas inexperiente. Pode ser o herói ou entregar o título. Você arriscaria?

Provavelmente não. Agora imagine o mesmo jogo… só que é a terceira rodada da fase de grupos. A substituição parece muito mais aceitável.

O jogador é o mesmo. O risco técnico é o mesmo. Mas o contexto mudou e, com ele, sua disposição ao risco.

Dobro ou nada? Depende da fração envolvida

Vamos elevar o dilema: “Você prefere investir R$1.000 com chance de dobrar ou perder tudo, ou deixar o dinheiro parado no banco?”

Se estivermos falando de todo o seu patrimônio, a resposta mais comum é: “Melhor deixar parado.”

Mas e se forem só R$1.000 dentro de uma carteira de R$100 mil?
A maioria dirá: “Dobro ou nada.”

Essa mudança de postura mostra que você não é contra o risco. Você é contra o risco quando ele ameaça sua sobrevivência.

Nassim Taleb, no livro “Antifragile”, explica isso com a barbell strategy:

– 90% do capital alocado em ativos extremamente seguros (como caixa, renda fixa, tesouro);

– 10% em ativos de risco elevado, com potencial assimétrico de retorno (como small caps, cripto, startups, opções).

Essa combinação parece contraditória, mas é extremamente eficaz.

“Torne-se extremamente conservador em grande parte do seu portfólio e extremamente agressivo em uma pequena parte. Isso é antifrágil.” — Taleb

A ideia é clara: coloque o risco onde ele é tolerável. Mesmo valor esperado. Quatro reações diferentes. Porque no mundo real, não investimos com a calculadora, investimos com o estômago.

Estudos mostram que essa aversão ao risco não é só teoria, ela tem impacto prático:

Morningstar (2022): Investidores que tentam prever o mercado (vendendo em momentos de pânico) têm retornos reais 1,7% ao ano menoresdo que os que mantêm a estratégia.

– Vanguard (2023 – “How America Invests”): A maioria dos investidores de varejo reduz exposição a ações após quedas, mesmo quando o tempo e os fundamentos indicariam o oposto. Isso mostra como a emoção contamina a lógica.

Dicas finais:

  1. Evite apostas binárias com todo o patrimônio.
    O risco pode ser matematicamente aceitável, mas psicologicamente destrutivo.
  2. Use “zonas de risco” bem definidas.
    Reservar 5% do portfólio para ativos voláteis permite buscar assimetrias sem comprometer seu plano de vida.
  3. Tenha clareza sobre seu “ponto de tolerância”.
    Se ver um ativo caindo 30% te faz vender, talvez você esteja com exposição maior do que suporta.
  4. Estruture seu portfólio como um time.
    Alguns ativos são os zagueiros — sólidos, previsíveis. Outros são atacantes — voláteis, decisivos. E todo time precisa de um bom banco de reservas: o caixa.

Conclusão

A lição por trás do dilema apresentado no início do artigo é poderosa:

O mesmo investidor pode recusar risco em um momento e buscá-lo em outro e isso não é incoerência. Finanças não são sobre ser “agressivo” ou “conservador”. São sobre saber onde o risco está e qual o impacto que ele pode causar.

A resposta certa nem sempre é buscar o maior retorno. Às vezes, é simplesmente evitar o retorno que pode te destruir.

O bom investidor não é o que foge do risco, é o que sabe onde colocá-lo.

 

O conteúdo desse artigo foi inspirado numa fala do Daniel Goldberg no podcast Market Makers. Segue a referência e o link para quem quiser assistir ao episódio:

 

https://youtu.be/xBbZgcfQ4gQ?si=octNOnLOwqg_v0fL

Grande abraço,

João Pedro Mello

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