Hoje vamos falar da segunda maior fabricante de aviões do mundo, que perdeu o título de maior para a Airbus no início desse ano: a Boeing (BA).
Esse é mais um texto da série “Apresentando empresas internacionais”, para que você conheça mais de perto as operações e riscos de companhias do exterior.
Com pouco mais de 145 mil funcionários, a Boeing é uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo e possui suas operações divididas em 4 segmentos:
- Aviões Comerciais;
- Defesa, Espaço e Segurança (BDS);
- Serviços Globais (BGS);
- Boeing Capital.
Aviões Comerciais
O segmento engloba o desenvolvimento, a produção e a comercialização de aviões comerciais e fornece serviços de suporte à frota, principalmente para o setor de linhas aéreas comerciais em todo o mundo. A companhia é uma das principais produtoras de aeronaves comerciais, contemplando os modelos de corpo estreito 737 e os modelos de corpo largo 747, 767, 777 e 787. A empresa ainda continua o desenvolvimento do programa 777X e alguns derivados do 737 MAX.
Defesa, Espaço e Segurança (BDS)
Esse segmento se dedica à pesquisa, desenvolvimento, produção e modificação de aeronaves militares tripuladas e não tripuladas e sistemas de armas para ataque, vigilância e mobilidade, incluindo aeronaves de caça e treinamento, helicópteros e avião-tanque.
Além disso, esse segmento também compreende sistemas estratégicos de defesa, inteligência, satélites, soluções cibernéticas e de informação e exploração espacial.
O principal cliente do segmento é o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que foi responsável por aproximadamente 84% da receita da unidade em 2019. Na carteira de clientes, também podemos incluir a NASA e consumidores dos mercados internacionais de defesa e de satélites.
Serviços Globais (BGS)
O segmento fornece serviços aos clientes comerciais e de defesa de todo o mundo, como: distribuição de peças, logística, manutenção e engenharia, treinamento, análise de dados e serviços digitais.
Boeing Capital
A Boeing, através desse segmento, procura garantir que seus clientes tenham o financiamento suficiente para comprar seus produtos e ainda gerencia a exposição do financiamento.
Segue abaixo a evolução da receita nos últimos três anos, por segmento:
Fonte: Boeing
Apresentado os segmentos, vamos falar agora do ambiente competitivo.
Em relação aos aviões comerciais, a companhia tem a concorrência da Airbus e de outros concorrentes da Rússia, China e Japão, que estão focados em aumentar suas participações no mercado.
No segmento de defesa, espaço e segurança, a Boeing enfrenta forte concorrência em todas as áreas desse mercado, principalmente da Lockheed Martin Corporation, Northrop Grumman Corporation, Raytheon Company, General Dynamics Corporation e SpaceX.
Além disso, empresas de fora dos Estados Unidos, como a BAE Systems e Airbus, continuam a construir uma presença estratégica no mercado norte-americano, conseguindo parcerias com companhias de defesa locais.
Há ainda parcerias de alguns concorrentes com outros competidores para atender a requisitos específicos do cliente.
O segmento de serviços também enfrenta forte concorrência dos mesmos players que competem na área de aviões comerciais e de defesa, tanto de empresas norte-americanas quanto estrangeiras, além de competidores específicos desse mercado. A grande vantagem é que esse segmento é beneficiado pela Boeing já ter clientes que usufruem de produtos que são complementados por esses serviços oferecidos, o que facilita a venda.
Em relação às matérias-primas, as mais importantes para os produtos da Boeing são o alumínio, o titânio e compósitos (incluindo carbono e boro).
Esse ano tem sido conturbado para a Boeing, principalmente em relação ao ambiente corporativo. Suas ações nesse ano já chegaram a $347, em março chegou a cair para $95 e no momento em que escrevo esse relatório estão cotadas a $187,94. Volatilidade alta como consequência dos momentos conturbados que vive a empresa e também reflexos da pandemia.
A pandemia gerou redução nas receitas e diminuição de voos das companhias aéreas, mas como dito acima, não foram apenas esses fatores que contribuíram para essas quedas da ação. Por isso, vamos ver alguns dos principais motivos abaixo:
A Boeing informou na terça-feira, dia 14 de julho, que os clientes cancelaram encomendas de 355 unidades do jato 737 Max no primeiro semestre.
Vale lembrar que esse modelo esteve envolvido em dois acidentes que resultaram na morte de 346 pessoas na Etiópia e na Indonésia, o que provocou ações judiciais, investigações do Congresso e do Departamento de Justiça e cortou uma fonte importante de renda da Boeing. Por isso, em janeiro deste ano, a Boeing suspendeu a produção do modelo e desde março de 2019 ele foi proibido de fazer voos nos Estados Unidos e em diversos países.
No dia 29 de junho, a companhia começou a realizar os testes de voo de certificação do modelo, para que o aterramento seja cancelado. Os testes terminaram no dia 2 de julho e somente será cancelado o aterramento se os especialistas em segurança da Agência de Aviação Civil dos Estados Unidos (FAA) estiverem convencidos que a aeronave atende aos padrões normativos.
No entanto, no dia 9 de julho, a FAA iniciou uma investigação para analisar se os inspetores foram alvos de “pressão indevida” por parte da Boeing, para que o jato 737 MAX fosse autorizado.
Para não falarmos apenas de notícia ruim, na semana passada a Força Aérea dos EUA oficialmente fez um pedido do seu primeiro lote de caças F-15EX, concedendo à Boeing um contrato que estabelece um valor máximo de US$ 22,89 bilhões para todo o programa.
Além disso, a Boeing também resolveu 171 dos 189 processos registrados nos EUA, em relação ao acidente de 2018 com o 737 MAX operado pela Lion Air.
Não foi especificado quanto foi pago, mas há um ano a companhia afirmou que ofereceria $100 milhões para as famílias das vítimas.
Em relação à cápsula espacial Starliner, que foi um dos modelos encomendados pela NASA para levar seus astronautas ao espaço através do Commercial Crew Program, foram registrados mais problemas relacionados à segurança, identificados pela própria NASA. Com isso, a Boeing terá que fazer novas correções para que ela possa voar. São ao todo 80 problemas que devem ser corrigidos, principalmente em relação ao software e testes.
Vale ressaltar que há um ano eram divulgadas notícias de que a Boeing estaria bem à frente do SpaceX no cronograma de lançamento, o que não aconteceu. O SpaceX já foi lançado e o Starliner ainda enfrenta problemas.
Sob o programa Commercial Crew, a NASA concedeu à SpaceX cerca de US$ 3,1 bilhões e à Boeing cerca de US$ 4,8 bilhões na última década.
Portanto, podemos observar que além do risco natural da competição, há também incertezas em relação a autorizações, ao cancelamento de pedidos dos clientes e a possíveis sanções oriundas de investigações governamentais.
Além disso, o setor aéreo é cíclico, e com a pandemia do coronavírus, as companhias aéreas estão sofrendo um decréscimo alto nas suas receitas e que, mesmo com o fim do isolamento, a demanda provavelmente irá voltar gradualmente, o que também é prejudicial para a Boeing, já que ela depende muito do desempenho das companhias aéreas.
Como 39% da receita em 2019 da Boeing foi originada de contratos com o governo norte-americano, existe também o risco do governo rescindir, modificar ou diminuir os contratos, principalmente com base em maus desempenhos.
Para finalizar, os segmentos BDS e BGS geraram em 2019, 70% e 73% de receita, respectivamente, baseados em custos fixos, ou seja, caso a Boeing venha a ter, com contratos deste modelo, custos maiores do que os previamente orçados, ela terá um aumento de gastos e, consequentemente, redução de suas margens. Vale destacar que os custos também podem ser menores, o que beneficiaria a companhia.
E aí, o que você acha da Boeing? Será que vale a pena investir nela?
Em agosto teremos o lançamento da nossa carteira de ações internacionais, com análises completas tanto da Boeing quanto de diversas outras empresas.
Não perca!
Abraços e bons investimentos,
Raphael Rocha.
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