No mês de agosto do ano passado escrevi sobre juros neutro e como é um conceito cada vez mais importante, resolvi voltar ao assunto.
Existe um famoso conceito entre os economistas que é o chamado “juro neutro”, essencial no cumprimento da meta de inflação
Fazendo uma analogia a ele, seria como se fosse o “piloto automático” do Banco Central, isto é, o juro neutro é um nível de taxa de juros que, quando chegamos a ele, a inflação não acelera e nem desacelera.
Se notarmos, toda economia de um país possui ciclos de crescimento acelerado ou até mesmo crises. A grande depressão de 1929 foi uma crise tão rigorosa que levou o desemprego americano para 25%. As consequências sociais, como a fome, eram tão assustadoras que o governo começou a pensar em formas de atenuar os ciclos econômicos, tornando as crises menos severas e as épocas de superaquecimento mais controladas.
Metas de inflação
Neste contexto, surgiu o Banco Central unificado da forma que conhecemos hoje, e os mecanismos de política monetária se consolidaram. Atualmente possuímos um regime no Brasil e na maioria do mundo que funciona com metas de inflação.
As instituições governamentais determinam uma meta para a inflação – aqui no Brasil decidida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Dessa forma, cabe aos Bancos Centrais desses países alterarem a taxa de juros para que a inflação caminhe em direção a meta. No entanto, as economias têm ciclos e, quando esses ciclos mudam, os Bancos Centrais têm que reagir.
Tomemos como exemplo uma grande crise como a da bolha imobiliária que ocorreu em 2008. Diante desse fato, o consumo das famílias cai, tal como a receita das empresas que consequentemente tem de demitir seus funcionários. Por sua vez, estes ficam sem os salários e param novamente de consumir… e assim a economia entra em um grande círculo vicioso.
Essa queda na demanda faz com que os preços caiam também e a inflação vá para baixo da meta estipulada.
O que é Juro Neutro?
Juro Neutro é um conceito utilizado para indicar que uma determinada taxa de juros é adequada para estímulo de? Um país sem gerar instabilidade na inflação ao longo do tempo.
No Brasil, esse termo é utilizado principalmente para análise da Taxa Selic, a taxa de juros básica do Brasil, em relação ao índice de inflação. Se há equilíbrio que não traga impactos para o aumento dos preços, então estamos diante de uma taxa com juro neutro.
Um desafio para análise desse conceito é que ela não é fixa ao longo do tempo. Isto é, de acordo com o desempenho e o comportamento da própria economia, o juro neutro também vai se movimentando.
Além da nomenclatura que vamos abordar neste texto, o juro neutro também é conhecido por outros nomes. São eles:
- Juro estrutural
- Juro ideal
- Taxa de equilíbrio
- Taxa natural
Qual é a principal função do juro neutro?
A principal função do juro neutro é permitir o crescimento econômico do país sem gerar algum tipo de pressão inflacionária.
No Brasil, esse é um conceito especialmente importante. Vale lembrar que, em um período relativamente recente, entre 1988 e 1994, o país teve altíssimos índices de inflação, em alguns anos superando o impressionante valor de 1000% (sim, você leu certo). Com o desenvolvimento do Plano Real, aos poucos os índices inflacionários passaram a ficar mais controlados.
No entanto, isso não significa que ela não deva ser monitorada e controlada. Assim, o uso do juro neutro pelo Banco Central é uma excelente forma de permitir o crescimento econômico do Brasil sem gerar essa pressão sobre os preços.
Juro neutro x juro real
Uma confusão que pode acontecer quando o assunto é taxa de juros está entre juros reais e juros neutros. O segundo, como já vimos, é uma taxa proposta que permite o crescimento econômico sem afetar tanto a inflação.
Já os juros reais são os rendimentos efetivos que uma quantia de capital apresenta descontando a inflação. Imagine, por exemplo, que a Taxa Selic esteja em 5% e a inflação esteja em 3%. Neste caso, os juros reais seriam de 2% (5% – 3%) e representam o que efetivamente foi ganho no período.
Há, como vimos, uma forte relação entre todos esses conceitos: juros neutros, juros reais, Selic e inflação. E uma medida impacta diretamente nas demais.
Novas estimativas de Juros Neutro para o Brasil
O mercado financeiro já subiu a sua estimativa de juros neutros da economia em virtude do desarranjo fiscal. Isso significa que, para colher o mesmo efeito no controle da inflação, o Banco Central deveria apertar a taxa básica em mais cerca de um ponto percentual, comparando com a situação anterior.
A reestimativa para cima do juro neutro – taxa que mantém a economia em pleno emprego, sem acelerar nem desacelerar a inflação – fica expressa nas projeções dos analistas econômicos para a taxa de juro em 2024 e 2025.
A revisão nas estimativas do mercado para a taxa neutra aumenta a pressão sobre o Banco Central, que está num processo de alta de juros para controlar uma inflação que, no ano passado, superou 10% , ou seja acima da taxa neutra. Quanto mais alta a taxa neutra, portanto, mais a autoridade monetária deverá apertar a taxa básica de juros.
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