Os dias de grandes bancos de investimento globais sendo o destino certeiro de empresas interessadas em listar suas ações na bolsa de valores podem estar ficando para trás, pelo menos no Brasil. O mercado brasileiro de ofertas públicas iniciais de ações está em alta este ano, apesar da pandemia.
Ainda assim, entre as cinco instituições financeiras que lideram o ranking de coordenadores em volume de negócios, quatro são nacionais, segundo dados da Refinitiv: Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Bradesco (SA:BBDC4), Xp Inc (NASDAQ:XP) e BTG Pactual (SA:BPAC11). O outro é o Bank of America. Isso marca uma mudança acentuada em relação ao mesmo período do ano passado, quando quatro dos cinco principais eram grandes atores globais – Bank of America, Credit Suisse, Citi e HSBC – com apenas um brasileiro, Banco do Brasil (SA:BBAS3).
Ainda assim, especialistas do setor alertam que, apesar das tendências de mudança em 2020, é muito cedo para se decretar uma mudança estrutural no mercado de IPOs. Os principais fatores por trás dessa recente tendência, de acordo com especialistas do setor, incluem a crescente participação dos investidores domésticos nos IPOs e também aos relacionamentos dos bancos locais com uma nova geração de empresas que acessa o mercado de capitais – incluindo os empréstimos que concedem a elas.
Os investidores brasileiros estão enchendo seus portfólios de ações recentemente, à medida que as taxas de juros caíram para níveis históricos, tornando os investimentos em renda fixa menos atraentes. Os investidores estrangeiros responderam por 38% do dinheiro dos IPOs brasileiros neste ano, em comparação com 57% há dois anos e abaixo da média histórica de 60% desde 2007.
“Os investidores locais estão migrando para ações e os gestores de fundos estão tendo dificuldade em encontrar ações da empresa para comprar”, disse Pedro Mesquita, sócio da XP. Quando a empresa de cashback Méliuz começou a planejar um IPO recentemente, por exemplo, poderia ter optado por bancos globais, como JPMorgan Chase, Morgan Stanley (NYSE:MS) e Goldman Sachs (N:GS), todos com escritórios no Brasil.
Mesmo assim, os fundadores e investidores de venture capital da Méliuz escolheram BTG Pactual, Bradesco, XP e Itaú Unibanco como os coordenadores de um IPO que deve ser lançado em breve. Os bancos globais, porém, provavelmente ainda serão escolhidos como destino certeiro para IPOs de grande porte e devem obter mandatos importantes até o final do ano, dizem especialistas do setor.
IPOs multibilionários, como os da seguradora Caixa Seguridade, da rede de hospitais Rede D’Or e da varejista Havan, serão coordenados por bancos internacionais e locais, por exemplo. “Os bancos locais costumam ter relacionamentos comerciais com empresas menores que crescem e atingem o porte necessário para um IPO, mas isso não significa que os bancos globais não liderarão em termos de volume até o final do ano”, disse Fabio Medeiros, managing director no Morgan Stanley, em São Paulo.
CRESCIMENTO DE NEGÓCIOS NO BRASIL
IPOs no Brasil estão a caminho de seu maior ano desde 2007. Treze empresas já fizeram sua estreia e mais de 40 outras já entraram com pedido de ofertas junto ao regulador. Até agora, as empresas levantaram 3,1 bilhões de dólares, 113% a mais que no mesmo período do ano anterior, nos 13 IPOs – superando os IPOs globais, que têm alta de 20%, segundo dados da Refinitiv.
Na Índia, em comparação, houve 21 IPOs, mas eles levantaram 1,7 bilhão de dólares, queda de 22,8% em relação ao ano anterior, enquanto na China 328 negócios levantaram 52,4 bilhões de dólares, mais que o dobro em relação ao ano anterior.
Os quatro bancos domésticos que lideram o ranking de IPOs de empresas brasileiras responderam por 54,3% do volume dessas ofertas iniciais. Muitas das empresas dessa nova onda de IPOs vêm de lugares distantes do tradicional corredor comercial São Paulo-Rio, onde bancos globais geralmente não têm escritórios. “Por muito tempo, a bolsa brasileira girou em torno de commodities e bancos”, disse Alessandro Farkuh, chefe da área de banco de investimento do Bradesco.
“Agora existem empresas de diferentes setores, do puro e-commerce a negócios de varejo mais regionais. Os bancos nacionais conhecem todas essas empresas.”
COMPETIÇÃO AQUECE
Quando a construtora familiar Moura Dubeux (SA:MDNE3) contratou cinco bancos para seu IPO no início deste ano, quatro eram domésticos. A empresa era credora de três deles. O Credit Suisse, o único banco global escolhido, é o banco que gere os recursos da família proprietária da empresa.
“Percebi que a maioria dos meus investidores seriam brasileiros e acho que os bancos locais atingiram um padrão global para coordenar ofertas de ações”, disse Diego Villar, presidente da Moura Dubeux, com sede no Estado de Pernambuco.
Roderick Greenlees, diretor global de banco de investimentos do Itaú BBA, disse que os bancos domésticos foram se posicionando para a recente mudança no cenário de IPOs.
“Os bancos brasileiros perceberam que haveria uma demanda crescente por serviços de mercado de capitais e contrataram mais banqueiros nos últimos anos”, acrescentou.
Com tantos bancos locais e globais disputando negócios no Brasil, o país é um mercado cada vez mais competitivo. As comissões médias pagas para os bancos em IPOs no ano passado foram de 3,3%, em comparação com 4,4% nos Estados Unidos, de acordo com o provedor de dados Dealogic.
Fonte: Finance News
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