Já vou iniciar esse texto com uma afirmação meio polêmica: você não tem medo do risco, você tem medo da perda. Curioso isso, né? Bom, o artigo de hoje vai te ajudar a compreender porque você se comporta do jeito que se comporta quando você tem ganhos ou perdas na bolsa.
Inclusive, tudo o que foi escrito aqui foi inspirado no livro “Misbehaving” do economista comportamental e ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler.
Imagine que realizaram duas espécies de loteria na sua empresa em que, na primeira, o ganhador levaria R$ 300 para casa e na segunda, R$ 500. Porém, o ganhador também precisaria responder mais uma pergunta antes de ir para casa.
Primeiro sorteio.
Digamos que era o seu dia de sorte e você ganhou o prêmio de R$ 300 e, agora, precisa escolher uma dessas duas opções abaixo:
- A) 100% de chances de ganhar mais R$ 100;
- B) 50% de chances de ganhar mais R$ 200 e 50% de chances de perder R$ 0 (e ficar com os R$ 300).
Qual você prefere, A ou B?
Logicamente, A, não é? Assim, você garante R$ 400 e vai para casa feliz, muito melhor do que correr o risco de ganhar R$ 500 e terminar apenas com R$ 300.
Segundo sorteio.
Pois bem, o ganhador do segundo sorteio é um colega seu de trabalho e ele já faturou os R$ 500 do prêmio. Mas, assim como você, também terá de responder a uma pergunta e escolher entre duas alternativas:
- A) 100% de chances de perder R$ 100;
- B) 50% de chances de perder R$ 200 e 50% de chances de perder R$ 0 (e ficar com os R$ 500).
Em dúvida, seu colega te pede ajuda. E aí, qual das duas você escolheria dessa vez?
Obviamente, a letra B, não? É melhor correr o risco de não perder nada do que ter certeza sobre a perda.
Entretanto, preste atenção nos dois testes. Em ambos, os ganhadores da loteria da empresa precisam escolher entre a certeza de levar R$ 400 para casa e o risco de levar apenas R$ 300. Percebeu?
Só que no segundo teste, como já ganhamos os R$ 500, temos tanto medo de perder os R$ 100 que preferimos correr o risco de perder R$ 200 para também ter a chance de não perder nada.
E, claro, as respostas “óbvias” que eu dei são as que foram comprovadas pela pesquisa de Thaler que a maioria das pessoas deu.
Isso é para termos noção de como podemos ser influenciáveis e totalmente incoerentes na tomada de decisões.
Por fim, pegando esse exemplo e levando para a bolsa de valores é possível compreender porque somos tão inclinados a realizar o lucro de uma ação que subiu, afinal, é melhor assegurar nossa conquista do que correr o risco da perda.
Porém, também sabemos que não é porque uma ação subiu que ela ficou cara e que não deveríamos continuar comprando.
Outro exemplo, por que você acha que é tão difícil vender uma ação que se desvalorizou muito e aceitar a perda? Na maioria das vezes, nossa tendência é querer comprar mais na esperança de que ela retorne, não é? Pois bem, isso é você aceitando correr mais risco para não ter de lidar com a perda.
Grande abraço,
João Pedro Mello
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