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VALOR AFETIVO X VALOR ECONÔMICO

 

Vocês já devem ter conhecido alguma ou algumas pessoas que guardam objetos antigos, pelo valor afetivo, “às vezes até mesmo objetos de valor como o próprio carro. Recebi um email de uma leitora do site, a Ariela (nome fictício).

Segue o email:

“Comecei a investir em RF ha 4 anos mais ou menos com objetivo de comprar um carro quando terminasse a faculdade. Comprei um novo, … Tenho ele há dois anos e estou no meu primeiro emprego com um salário bem mais ou menos. Todo ano faço um balanço e meu carro custa mais ou menos 20% da minha renda anual, sem contar custo de oportunidade e depreciação. Por um lado tenho um amorzinho por ele por ser meu primeiro objetivo realizado, mas por outro me sinto mal gastando tanto, especialmente esse mês que o IPVA e Revisão coincidiram e gastei 60% do salário do mês. Queria saber se existe alguma forma de precificar a satisfação de ter o carro para eu ter a mesma base ao compará-lo com o investimento q poderia fazer se o vendesse e andasse de ônibus sempre.”

Segue o meu comentário: Sempre falo que é fundamental nós respeitarmos as nossas individualidades. E principalmente nossas limitações. No artigo de sábado mostrei como até eu tive vária limitações no início e até hoje ainda tenho. Se não leu Clique Aqui.

Eu poderia simplesmente chegar aqui e fazer os cálculos de quanto o carro da Ariela custa para ela por mês e comprovar por A+B como seria interessante para ela se desfazer do carro, mas aí eu estaria retirando toda a questão emocional do negócio. Faremos esses cálculos no final do artigo.

Este email me chamou atenção porque nesta mesma semana recebi uma mensagem de uma apoiadora dizendo que ela conseguiu fazer um acordo com uma parente em que elas trocariam de carro e essa apoiadora conseguiu sair com 12 mil reais líquido. E o novo carro tem gastos de gasolina, seguro e IPVA menores. Isto é, ela trocou o carro dela por um carro mais simples e agora ela tem um dinheiro novo para investir na previdência da filha dela pequena. Esse nível de consciência me deixa muito feliz e são os verdadeiros frutos do meu trabalho. Se você quiser virar apoiador do site e ter acesso a um grupo de whatsapp comigo, clique aqui.

E também me lembrou, a história de um aluno antigo, que eu infelizmente, perdi contato, em que uma vez confidenciou que também tinha esse problema de se desfazer dos bens que ele conquistou no início de sua carreira. Ele, então criou um quarto na casa dele, em que ele colocava todos esses “objetos de valor afetivos”, e em caso de objetos grandes como carros e lanchas (no caso dele), ele tirava fotos desses objetos e enquadrava. No final, ele acabou criando um museu da vida dele na casa dele. Ele inclusive colocava os anos de cada carro (anos de compra e de venda). Assim ele conseguiu manter as recordações e o valor afetivo sem precisar incorrer em custos desnecessários para manter esses objetos. Foi uma ideia bem perspicaz.

O carro da Ariela, hoje ainda tem dois anos e ele ainda não deu defeitos maiores, até porque está no período da garantia. Mas em algum momento, ele começará a trazer problemas maiores para ela. As máquinas não foram feitas para durar eternamente. Em algum momento, o carro começará a dar despesas maiores ainda. E passará a valer inclusive menos. Carro é um dos “ativos” e eu coloco entre aspas porque é um ativo que nos gera muitas despesas como podemos ver na tabela abaixo.

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Elaborado pelo autor

Vemos que somente as despesas correntes do carro, ou seja, as despesas que trazem desembolso de caixa já custam 20% do valor do carro praticamente. Cabe ressaltar que a medida que o carro vai ficando mais velho, a revisão vai encarecendo, que a gasolina aumenta normalmente todo ano, isto é a pressão de gastos vai ficando cada vez maior.

Mas percebam que o carro tem outras duas despesas que estão escondidas e que a Ariela escreveu muito bem em seu email. A depreciação e o custo de oportunidade. E eu ressalto que são escondidas, porque ela não gasta nenhum centavo com elas, pelo menos não visivelmente.

A depreciação é um termo muito utilizado pra tentar auferir ao valor do carro a perda de valor dele ao longo do tempo, por causa do uso. No final de toda a vida útil do carro, ele terá apenas um valor residual. Podem perceber que a cada ano que passa o mesmo carro vale menos.

Já o custo de oportunidade é o seguinte: Imagine que este carro fique estacionado na garagem do prédio da Ariela. E que neste edifício, as vagas conseguem ser alugadas para outros condôminos pelo valor de 100 reais por mês. Assim a cada ano que passa a Ariela deixa de ganhar 1200 reais, para continuar deixando o carro dela guardado na garagem. Em uma análise altamente conservadora.

Incluindo, estas duas “despesas”, temos o seguinte gasto anual para o ano de 2017.

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Perceba que o carro de R$ 60000,00 custa na verdade, quase 40% de seu valor ao ano. São 13110,00 de despesas correntes e quase R$ 10000,00 em valores que o carro vai desvalorizar por depreciação ou receitas que não serão auferidas.

Veja agora na tabela abaixo, o efeito de todos esses custos ao longo de mais 4 anos:

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Percebam que o carro perdeu 40% do valor em 4 anos, olhem que o total de despesas nos 4 anos foi superior a R$ 52000,00, valor maior que o do carro. E incluindo depreciação e custo de oportunidade temos que a Ariela deixou de ter R$ 85634,78, apenas para ter a comodidade do carro. Para algumas pessoas esse valor é irrelevante em 4 anos, para outros não. Este parece ser o caso de Ariela que chegou a citar no email que gasta 20% do seu salário apenas para manter o carro.

Vejam que em 2020, Ariela terá de vender o carro por R$ 36000,00 e para comprar um carro com dois anos de uso igual ao dela terá de desembolsar em torno de R$ 34000,00, já que aquele carro dela de R$ 60000,00 já terá sofrido algum reajuste de preços.

Obviamente que a venda do carro fará com que a Ariela incorra em gastos novos. Principalmente de ônibus, taxis/uber ou metrô. Ela também perderá um pouco de sua comodidade, e mesmo que gaste R$ 500,00 a 700,00 por mês em transporte, (6000,00 a 8400,00 anuais) ainda sim terá uma economia tremenda. Vamos colocar agora o salário dela na conta para entendermos melhor. Um salário de 5000,00 em 12 meses, com aumento de 6% ao ano.

Percebam que a medida que o carro se desvaloriza, o percentual gasto vai se reduzindo um pouco, mas mesmo assim permanece próximo aos 20%, se incluirmos a depreciação e o custo de oportunidade chega na casa dos 30%. O que seria altamente relevante para Ariela realizar essa economia. Percebam que em 2017, se ela vender o carro, ela terá 60 mil reais para investir em Renda Fixa ganhando 10% ao ano conservadoramente. Mesmo que ela gaste 700,00 por mês em transporte (8400,00 por ano) ela terá uma sobra de mais de R$ 10000,00 reais. E esse valor representa 16% do salario dela atual. Esse valor economizado, pode ser os aportes mensais para Ariela começar uma carteira de investimentos. Mesmo que seja só em Renda Fixa. Qual o problema? Minha sugestão para ela então seria vender o carro agora enquanto ainda está novo, aplicar o valor e aproveitar para tirar muitas fotos do carro, para ter sempre apenas as boas recordações desse bem que ela conquistou com o suor de muito trabalho.

Espero que vocês tenham percebido os custos que existem ao adquirir um carro. São custos muito maiores que apenas, IPVA, gasolina e estacionamento, como muitos imaginam. Vejam que não coloquei multas, nem pedágios na conta que poderiam encarecer ainda mais. Espero que tenham entendido também porque eu não considero o carro um ativo. Porque no final das contas ele tira o nosso dinheiro E tira em uma proporção muito grande.

Abraços e Bons Negócios
Daniel Nigri

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